Angolanos encontram sustento a vender Rands na fronteira de Santa Clara

O negócio é ilegal, mas a conjuntura da crise legalizou, na prática, a venda de divisas nas ruas angolanas, algo que salta à vista na maior fronteira terrestre, em Santa Clara, onde dezenas de jovens fazem vida desta atividade. Em plena fronteira da província do Cunene, no sul de Angola e a de maior movimento terrestre no país, com a localidade namibiana de Oshikango de fundo, a agência Lusa encontrou Francisco Augusto.

“Faço o câmbio, trocamos dinheiro na rua. O câmbio, trocamos assim: 32.5, a nossa venda. A compra é 32”, começa por explicar o jovem, que faz vida deste negócio, o qual sustenta, visivelmente, largas dezenas de famílias no município angolano de Namacunde.

Na prática, vendem na rua, cada nota de 100 rands, moeda sul-africana transacionada também na Namíbia, por 3.250 kwanzas (12 euros), enquanto a compra é feita por menos 50 kwanzas (0,20 cêntimos). Ou seja, a mais do dobro da taxa de câmbio oficial, que é de 1.800 kwanzas por cada 100 rands.

Um negócio que se explica por a moeda angolana não ser aceite do outro lado da fronteira, pela qual passam todos os meses, nos dois sentidos, dezenas de milhares de angolanos e namibianos, o mesmo acontecendo, em Angola, com o dólar namibiano. Acresce o facto de a crise financeira e cambial em Angola praticamente ter acabado com o acesso a divisas nos bancos, restando o negócio paralelo.

“Mas o negócio está fraco, o câmbio está baixo. Fazemos isto para levar 500 ou 1.000 kwanzas [até 3,50 euros] para casa por dia”, explica Francisco Augusto. Aos 25 anos, passou os últimos três nas ruas de acesso à fronteira de Santa Clara, do lado angolano, onde o negócio é feito à frente de todos, mesmo da polícia, até por ser a única alternativa para quem precisa de ir fazer compras ou receber tratamento médico na Namíbia.

Quem vem do outro lado vê a nota de 100 rands valorizada para o dobro. O problema é que os angolanos pagam também o dobro e mais o lucro de quem negoceia na rua, pelos mesmos 100 rands que necessitam para fazer negócio na Namíbia.

“Você que está a passar, se tiver uma nota pode comprar. Se tiver quantidade, também pode comprar”, acrescenta Francisco, garantindo que apesar das dificuldades, não faltam rands para trocar no mercado paralelo de Santa Clara.

Um negócio que vai ajudando a alimentar a casa, onde vivem 12 pessoas, incluindo os três filhos de Francisco.

O mesmo acontece com Mário Ngula, de 23 anos, que com o negócio da compra e venda de rands na rua paga os estudos dos irmãos, em Ondjiva, capital do Cunene.

“Isto é para ganhar 50 ou 30 kwanzas [por cada 100 rands]”, começa por contar, assumindo a mesma cotação de rua entre o kwanza angolano e o rand sul-africano (3.200/3.250 kwanzas).

A partir das 06:00, todos os dias, Mário espera por clientes junto à fronteira, nomeadamente os angolanos que manhã cedo partem para fazer compras na Namíbia.

De maço de notas de kwanzas na mão, prontos para comprar toda os rands que chegam do outro lado, por ali vende os rands que comprou no dia anterior a quem regressava do país vizinho.

“Mas está mesmo difícil, não estamos a ganhar nada mesmo porque o rand da Namíbia subiu muito”, desabafa.

Publicação da autoria de Fonte Externa:
Lusa
14/04/2018

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.