Banquete com o dinheiro chinês vem de longe

Não se tratou propriamente de um balde de água fria aquele que a delegação angolana chefiada pelo próprio Presidente angolano levou em terras chinesas. Mas teremos de convir que regressar da China com a garantia de um empréstimo cifrado em apenas dois mil milhões de dólares, quando o que se pretendia eram 20 mil milhões de dólares, tem o seu lado frustrante.

Decepções e frustrações à parte, o novo timoneiro da nau angolana, João Lourenço, e os homens que o aconselham tinham a obrigação de fazer o trabalho de casa para não se surpreenderem de todo com o que aconteceu. Era de prever que algum dia os chineses haveriam de encolher um pouco a disposição para soltar os cordões à bolsa. Tal como sucedeu agora, com as autoridades chinesas a acusarem o nosso Governo de haver desbaratado o dinheiro emprestado ao longo dos anos.

O histórico das relações entre Angola e a China envolve episódios que demonstram que os chineses fazem contas. Sempre estiveram atentos à voracidade dos governantes angolanos para meterem a mão nos créditos que foram sendo sucessivamente desembolsados por Beijing.

E como jornalismo também se faz com memória e background, o Correio Angolense faz recurso à história, trazendo para os dias de hoje matérias publicadas pelo extinto Semanário Angolense nos anos 2000. Elas provam como as autoridades chinesas sempre estiveram de olho nos seus parceiros africanos e como só mesmo os governantes angolanos não fizeram o que lhes competia: serem parcimoniosos no uso do dinheiro da China e fiscalizar com rigor os próprios orientais.

Os artigos mostram que logo nos primeiros instantes os chineses foram alertando Angola, revelando por exemplo a farra que já então José Pedro de Morais e António ‘Toninho’ Van-Dúnem faziam com o dinheiro emprestado.

O tempo demonstrou que Angola não aprendeu a lição. O antigo Presidente, José Eduardo dos Santos, teve os alertas dos chineses mas pouco realmente fez com essa informação, senão uma purga superficial que queimou a uns, mas na verdade trouxe à mesa do pacote chinês outros e mais vorazes comensais.

Passados todos estes anos a conclusão é que quem se ferrou foi alguém que naquela época até mostrava séria disposição para pôr um travão no banquete com os dinheiros chineses: Fernando Miala. José Pedro de Morais, Toninho Van-Dúnem e depois Kopelipa e outros “lampeiros” mamaram a massa chinesa a seu bel-prazer mas hoje estão aí calmamente a desfrutar do fruto do repasto.

Desenterrar essas matérias serve, sobretudo, de lembrete àqueles que por esses dias revelam memória curta em relação ao papel desempenhado por José Eduardo dos Santos no assalto aos empréstimos da China. Mesmo tendo autoridade e poder para fazê-lo, não soube estancar a roubalheira e a impunidade. Pelo contrário, a determinada altura deu rédea solta a tais fenómenos, introduzindo a sua parentela no esquema. Se o saque e a impunidade tivessem sido devidamente reprimidos por ele, que podia fazê-lo se quisesse, não teriam atingido a dimensão estratosférica que tiveram.

Publicação da autoria de Fonte Externa:
Correio Angolense
14/10/2018

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