Chineses trocam construção civil pela agricultura em Angola

Desde o início da crise económica no país, e que paralisou grande parte das obras públicas, as empresas chinesas de construção ficaram paralisadas. Estima- se que mais de 50% delas não têm obras. A agricultura é o novo nicho de negócio. Huambo, Cuanza-Sul e Malanje são algumas das províncias onde os chineses investem milhões de dólares.

Desde 2002 que a referência dos chineses em Angola era o sector da construção civil e obras públicas. No entanto, o foco começa a mudar com a falta de obras. Outros sectores já interessa aos chineses, que não poupam esforço ao investirem.

Ao jornal OPAÍS, o vice-presidente da Câmara de Comércio Angola- China (CAC) sublinha que o desinvestimento na construção civil está a atrair os chineses para outros sectores. Francisco Chen destaca que a agricultura é dos mais promissores, uma vez que o país possui terras aráveis, rios e outras condições estão a ser criadas.

“No município da Tchicala Tcholoanga, uma empresa chinesa está a investir, numa primeira fase, USD 12 milhões para cultivar milho e soja, num espaço de mil hectares”, avançou.

Em Malanje, prossegue, outra firma está a investir no cultivo de arroz, mandioca, milho e frutas, cuja área de cultivo é de mil hectares, com investimento de USD 200 milhões. “Está mesma empresa possui um outro projecto em Malanje, mas virado para criação de porcos e transformação de carne.

Será igualmente numa área de mil hectares. O trabalho de instalação vai durar cinco anos o investimento pode chegar aos USD 100 milhões”, avançou.

Segundo ele, o investimento na agricultura é o que mais cresce. Cita como exemplo a instalação, no Cuanza-Sul, de uma indústria moageira que se dedica à transformação da mandioca em fuba de bombó. Todavia, Francisco diz que ainda existem dificuldades.

Dá como exemplo o facto de não haver sementes para produção de alimentos. “Há necessidade de importar sementes para produção de milho. Não se pode aproveitar o que já se cultivou. Isso obriga a importação. Não há também fábrica de fertilizantes, insecticidas e outros produtos. Quando assim é a produção acaba por ficar cara”, considerou.

O ambiente de negócio que se está a criar pode, segundo Francisco Chen, atrair mais investidores chineses para Angola. Chen destaca o facto de Angola e o seu país terem assinado recentemente um acordo que visa pôr fim à dupla tributação. “A participação do Presidente da República de Angola no Fórum Sino- África, em Setembro deste ano, foi um sinal de abertura.

E depois do Fórum, o Presidente regressou à China. Na segunda vez assinou vários acordos de financiamento, fim da dupla tributação de impostos, e um terceiro que está virado para a cooperação tecnológica, o que tem a ver com promoção e protecção de investimentos. É um bom sinal”, considerou.

Entre a China e Angola existe ainda um acordo de desenvolvimento de recursos humanos, o que demonstra o interesse dos dois países em aproximarem-se cada vez mais.

O responsável da Câmara de Comércio Angola/China assinala que está mais facilitado o processo de constituição de empresa no Guiché Único, realçando a redução considerável dos actos de corrupção em alguns departamentos que intervêm na constituição de empresas.

“O fim da dupla tributação e abertura na constituição de empresas em Angola vai trazer mais investimentos chineses”, admitiu, o vice-presidente da CAC. Para ele, o pior ano para as empresas chinesas em Angola foi 2016, quando o câmbio era de 600 Kwanzas (na rua) para cada nota de um dólar.

Agora, reconhece, houve uma redução na ordem de 50%. Refere que apesar do câmbio flutuante que está ser praticado pelo Banco Nacional de Angola hoje o cenário é completamente diferente. “Os dias péssimos para as empresas chinesas já passaram”, reiterou, reconhecendo igualmente que há um empenho do governo saído das eleições de 2017 no sentido de alavancar a economia e fazer avançar o país, com a participação de investidores estrangeiros.

Quanto à aquisição de divisas, há, segundo o responsável associativo, uma melhoria significante.

O aumento do sentimento de segurança pública realça o empresário, também contribui para a atracção de investimentos estrangeiro. Por isso, acredita no aumento do volume de investimentos, com a entrada de novas empresas do seu país no mercado angolano.

“Os chineses querem fazer mais investimentos em Angola. No entanto, muito deles ainda estão a avaliar o cenário. Mas já há uma vantagem que assenta na facilitação de vistos”, disse. A Câmara de Comércio Angola China controla, segundo Francisco Shen, mais de 500 empresas de vários sectores de actividade. Agricultura, comércio, prestação de serviços, construção civil, dentre outros, constituem focos dos investidores chineses que escolheram Angola para trabalhar.

A China é um dos países do mundo que mais aposta nas novas tecnologias. No entanto, na sua relação empresarial neste sector ainda não constitui prioridade, pelo menos a curto prazo. “O governo chinês está a dar bolsas aos angolanos. Está também a formar técnicos de agricultura e da Polícia, no âmbito da cooperação estatal.

Os privados também estão a fazer a sua parte. Mas ainda temos muitos obstáculos por ultrapassar”, fez saber. Explica que em Angola ainda existem muitos problemas para fazer funcionar uma indústria, sobretudo ao nível das novas tecnologias.

Refere que é preciso fazer funcionar a cadeia produtiva para que as indústrias, pequenas, médias e grande possam ter matéria- prima para funcionar. “Angola não é como na China, onde podemos comprar tudo localmente. Por exemplo, há no país uma empresa que se chama Grandes Moagens de Angola.

Entretanto, essa empresa importa, pois o grão é importando, e para tal precisa de divisas. Todo este processo encarece o produtivo final, acabando por ficar mais caro que o importado”, explicou. Acrescenta que “precisamos de mais algum tempo”, sentenciou.

Publicação da autoria de Fonte Externa:
O País
27/11/2018

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