Specialist AO – Dr. Jorge Marra – Impacto do endividamento na estrutura financeira

A estrutura financeira de uma empresa pode ser constituida totalmente por capitais proprios ou alheios ou parcialmente pelo dois gerando uma estrutura mista.

Decidir a forma como uma empresa será financiada depende fundamentalmente da percepção/perfil dos investidores sobre a relação entre a rendibilidade e o risco,ou seja, o retorno que esperam obter em função dos riscos que vão correr.

Vejamos por exemplo,que para um investidor que já tem na sua carteira, investimentos de baixo risco e por isso também de baixo retorno,em algum momento será tentado a explorar outros investimentos lhe ofereceram uma maior rendibilidade dos seus capitais, mas na medida em que exigir esse retorno maior,maior também será o risco.

A rendibilidade dos negócios pode ser avaliada de varias formas,dando enfoque em pelo duas menos,veremos que existe uma que relaciona o Resultado antes dos juros e dos impostos gerado pelo negócio com o Activo usado para gerar esse resultado e outra que relaciona o Resultado Líquido obtido com ao Capital Próprio para poder avaliar a capacidade do negócio em renumerar quem o financiou.

A primeira, assume forma de rendibilidade de activo e a segunda de rendibilidade do capital próprio.

Imaginemos, uma empresa que no Ano N possui um activo de 4.500.000,00 que é totalmente financiado por capitais próprios e tinha um Resultado antes dos juros e dos impostos de 1.500.000,00 e paga Imposto industrial a taxa de 30% com algumas contas rápidas percebemos que ela possui Rendibilidade do Activo de 33%, dito isto de outra forma, o resultado gerado pela activade económica da empresa cobre um terço do seu activo, se a isso adiciornarmos o facto de ela também ter uma rendibilidade do capital próprio de 23,33%, ou seja, que os acionistas estão a ter obter um retorno abaixo da metade do capital que investiram ficaremos a primeira vista com a percepção de que esta empresa apresenta uma performance muito positiva, especialmente se estivermos num contexto económico em que as taxas de retorno não são superiores a 5% mas para podermos formar uma opinião ou criar estratégias de crescimento futuras baseadas nesses dados seria necessário por exemplo confronta-los com a média do sector onde a empresa actua, ou com outros dados conjunturais externos.

Será que essa rendibilidade do capital de 23,33% satisfaz ao acionistas? ou seria suficiente para convencê-los a entrar mais com mais capital na empresa?questões como essas muitas vezes são levantadas em Assembleias Gerais de Acionistas. Normalmente, a opção de incorpar capitais alheios na estrutura financeira das empresas não é vista com bons ,pois aumenta o risco financeiro do negócio, mas a mesma coloca-se com uma forma dos acionistas evitarem injecções de capitais adicionais que provavelmente acabarão por não gerar o retorno que eles esperam, vejam por exemplo, o caso das nossas empresas públicas que foram várias vezes recapitalizadas. Assim, o custo da dívida é menor em relação custo do capital próprio uma que vez que o reembolso do capital emprestado e dos juros tem prioridade numa situação de falência.

Suponhamos que na mesma empresa, os acionistas desejam agora substituir a situação de 100% de capital de próprio, por uma de 50% de capital de próprio e 50% de passivo a um custo 11% ao ano durante 10 anos. Feitas as contas, veremos que a rendibilidade do activo se mantém constante, pois não depende da estrutura de financiamento mas sim do desempenho económico do negócio que se manteve constante(o resultado antes do imposto e dos juros não sofreu alteração). Já a rendibilidade de capital próprio ascende 39% ultrapassando largamente a rendibilidade da situação sem endividamento.

A partida os acionistas poderão estar mais satisfeitos,mas o investimento na empresa está mais arriscado(maior risco financeiro porque a divida e os seus juros têm de ser pagos). Mas como a Rendibilidade do capital próprio sobe 23,33% para 39%? sobe porque o custo da dívida é inferior a rendibilidade do capital próprio da situação de 100% em 15 pontos percentuais, logo existe um ganho por se optar por essa fonte de financiamento mais barata no valor 352.575,00, adicionalmente os custos financeiros resultantes da dívida são considerados custos fiscais em sede do imposto industrial( para evitar dupla-tributação económica pois já sofrem tributação em sede do imposto sobre aplicação de capitais) assim existe uma economia fiscal pela utilização de divida de 74.250,00, somadas essas duas poupanças chegamos a um total de 426 825,00, precisamente o valor do acréscimo no resultado liquido pela estrutura de financeira mista.

Portanto, essa magia da dívida só será positiva, o enquanto a rendibilidade do activo for superior ao custo do endividamento, o impacto sobre a rendibilidade de capital próprio será sempre posítivo,isto é, o facto de substituirmos capital próprio por alheio,em condições de maior rendibilidade no negócio do que o custo de nos financiarmos , funciona como uma alavanca que eleva a rendibilidade para o acionista.

Melhores cumprimentos,
Jorge Marra

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