Tem sido comummente defendida a tese de que a economia de Angola precisa passar por um processo de diversificação urgente. Apesar de ser verdade, é necessário enfatizar que a diversificação económica não se materializa em tão pouco tempo.
No curto e médio prazo, quiçá, as únicas coisas que se diversificam são as palavras. No presente momento, temos observado algumas opiniões que destacam o papel indispensável da agricultura na diversificação da economia em Angola.
Em África existe essa tendência recorrente de má interpretação dos factos e medidas a seguir para a aceleração do processo de desenvolvimento económico. Por exemplo, nos anos pós-independências, notou-se um engajamento desorientado de alguns países africanos em tornarem-se potências industriais em detrimento da produção agrícola.
Ironicamente, o resultado deste esforço foi a insegurança alimentar que se observou em alguns cantos do Continente Berço. Lembra-se da fome na Etiópia em 1985?
Inesperadamente, a sinfonia “pró-industrialização” da orquestra “Os propagandistas” tem uma nova cadência – “agricultura avante”. Hoje, em Angola, o debate sobre a diversificação tem-se centrado na tese de que o país precisa alargar a sua base de exportações, e uma vez que se acredita que Angola tem uma “vantagem comparativa” na produção agrícola; porquê não a menosprezada agricultura!
Ora bem, apesar de as exportações serem um factor determinante para o desenvolvimento económico, a actual conjuntura macroeconómica mundial não aconselha essa estratégia. Orientar as actividades económicas à exportação, sobretudo de produtos agrícolas, apenas visa em expandir a existente ligação económica do país com o resto do mundo sem melhorias significativas na acumulação de capital, que é o ingrediente necessário à diversificação produtiva no longo prazo; pois existe um abrandamento na demanda por matérias-primas nos países industriais (devido à estagnação secular) e também à perda de dinamismo na economia da China (maior parceiro económico de Angola), o que leva este último país a adoptar uma nova estratégia de desenvolvimento centrada na demanda interna. Além do mais, o ciclo de negociações multilaterais de Doha ainda está por concluir.
Tal-qualmente, não somos o único país com um potencial agrícola de maravilhar. Logo, o excesso de competição neste segmento implica uma redução nos valores acrescentados à economia.
A agricultura é importante e deve, sem sombras de dúvidas, servir de suporte à indústria de manufacturados e garantir a segurança alimentar, mas não deve ser vista como o pivô da estratégia de desenvolvimento.
Nesta fase do processo de desenvolvimento em que nos encontramos é conveniente reduzir as importações de bens de consumo e importar mais bens de capital. As exportações devem ser constituídas por bens processados, inicialmente direccionadas aos mercados africanos.
Dentro desta abordagem, a estratégia de desenvolvimento a seguir consiste no fortalecimento da demanda doméstica através de políticas salariais e melhorias na distribuição da renda, porque a acumulação desproporcional da renda não apoia a diversificação da economia visto que os indivíduos com maior renda têm a tendência de consumirem mais as importações.
Outrossim, devemos recorrer à prática de políticas industriais selectivas, sendo o Governo o timoneiro na identificação de sectores estratégicos.
A moeda nacional deverá ser mantida estável e competitiva, evitando-se sempre a sua sobrevalorização. Na verdade, a “crise do petróleo” nos proporciona uma oportunidade de melhorarmos o cenário económico de Angola.